sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Existir.

A caminho de férias, lia durante meu vôo, uma destas revistas de filosofia, um artigo me chamou a atenção. Sobre o “ter” e o “Ser”. Vocês devem estar se perguntando, que diabos isto tem haver com tatuagem. Se tiverem paciência eu chego lá.

No artigo, que apresenta o pensamento de Erich Fromm, Psicólogo Alemão que estudava a influencia da sociedade e da cultura sobre o individuo, as influencias do “ser” e do “Ter” nas ações humanas e o que isto gera em nossos valores, amores, relações sociais, escolhas etc

“A incapacidade de amar profundamente a pessoa do outro faz que, na civilização do “Ter”, o individuo vislumbre no consumo a conquista de um lugar fugaz bem-estar. O ato de se adquirir objetos se torna uma válvula de escape para tensões cotidianas.”
Erich Fromm

A capacidade de existir versus a necessidade de consumir. Uma questão paradoxal que permeia as nossas vidas. Seria simples dizer que consumir não é existir, mas algo que somente é parte de nossa vida. O problema está em vulgarizar esta relação e as coisas perderem sua profundidade.

A relação do existir e consumir, com a tatuagem atravessa a questão das escolhas e da reflexão sobre elas. A estética da tatuagem está relacionada com o mais profundo do existir. Se esta relação é retirada ela também se torna um bem de consumo, “Ter” e não “Existir”. Algo bonitinho que desenhei no meu corpo no verão, sem a menor conseqüência ou reflexão. Aquilo que demonstra nossos valores e nos representa também vale para a tatuagem.

Infelizmente de uma década ou mais para os dias de hoje a “tatuagem de consumo” tem se tornado cada vez mais comum. E em minha reflexão de viagem pensei que a tatuagem é parte do que nós somos. Transporta - personalidade, valores, amores e não o que você tem como bem material.

domingo, 25 de outubro de 2009

Tatuados pós-modernos

Dedico as pessoas tatuadas do novo século e também a historia deste movimento. Ser tatuado e também ser “normal”. (normal entre aspas porque de perto ninguém é.)
Nós trouxemos para a sociedade uma nova possibilidade de individuo. Uma possibilidade estética e cultural, que re-nasceu e não mais pode ser negligenciada. Mais e mais pessoas estão se tatuando, e o fazem porque se sentem confortáveis em seus corpos multicoloridos. O importante nestas considerações é levarmos em conta, que esta é uma expressão artística, valorosa e bela.

Este movimento, que a partir do século vinte se modifica e toma grande força na nossa sociedade. Principalmente na década de noventa com a chegada da tatuagem de Henna, que por ser delével, possibilita a uma gama maior de pessoas experimentarem terem seus corpos adornados. Assim diminui um pouco o preconceito e aumentou a curiosidade.

Hoje vou indicar uma leitura muito interessante de um professor americano, que mudou sua vida através da tatuagem ou porque não dizer com a tatuagem.
Este cara é o professor Samuel M. Steward, que em seu livro – Bad Boys and ToughTattoos” ele conta sua trajetória e historias com o mundo da tatuagem.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Que vejo flores em você!



Então chega a fase das flores. A primeira foi feita na época em que minha avó faleceu, sonhei com ela segurando uma rosa vermelha e tatuei-a no ombro. A segunda flor a historia é um pouco mais complicada, mas só vou dizer o seguinte, estava me separando e tatuei uma flor de lótus na lombar. A flor de lótus vocês sabem nasce nos pântanos lá na Índia. Então ela representa esta transição na minha vida. Transição e predição, como sempre. Tenho a opinião de que toda transição e para agente se perder um pouco e depois achar outra coisa.

Agora estou começando outro planejamento no qual a tatuagem deixa de ser um símbolo individual tatuado para se tornar um projeto de imagem corporal. Explicando melhor pretendo unir as imagens que tenho tatuada começando pela flor vermelha que tenho no ombro.

E vou tatuar mais flores. Porque flores? Elas são hibridas sedutoras e com afiados espinhos. Acho que todas as experiências pelas quais passamos na vida são assim hibridas. Não existe só felicidade nem só tristeza.

sábado, 5 de setembro de 2009

Amar e Chocar.

Quando eu pensava que já tinha escutado de tudo um pouco em relação ao preconceito, sobre tatuagem e tatuados, acabo por ouvir algo novo.
Estava em uma festa de aniversario conversando alegremente com uma conhecida sobre tatuagem. Ela me contava sobre duas tatuagens que a interessaram e impressionaram: a primeira - a de um rapaz que tinha veias tatuadas pelo braço e a segunda uma menina tatuara um coração no meio do peito. Quando de repente se intromete na conversa uma senhora, que estava na sala, e diz; mas quem faz este tipo de tatuagem esta querendo mesmo é aparecer e chocar.

O que vocês acham disto?

Eu acho que estas pessoas são primeiro corajosas e também muito originais. Acho que se utilizam de imagens fortes no próprio corpo porque possuem sentimentos muito fortes no seu interior. Elas se emprestam a uma performance cotidiana de impressionar, por vezes chocar, mas também de amar a beleza.

Corroborando o que venho falando acima, trago uma citação do livro ”O Corpo como Objeto de Arte” do sociólogo Frances Henri-Pierre Judy.

“Quando são bem trabalhadas, as diferentes tatuagens podem se assemelhar a quadros, cuja superfície seria a pele do corpo. A exibição da tatuagem é um gesto considerado sagrado, é o mistério de um código figurado por uma representação simbólica que é oferecido ao olhar alheio. Á sua maneira, a tatuagem se apresenta ao mesmo tempo como uma inscrição intimista sobre o corpo e uma manifestação pública”

domingo, 16 de agosto de 2009

Pegadas


Já para a terceira tatuagem levou mais tempo, pois precisei de três anos para escolher, ou melhor, maturar outro desenho. Então este desenho surgiu, eram quatro pegadas de gato. Sempre gostei de gatos, mas não tinha nenhum na época, anos depois adotei três. A Cácia Eller também tinha uma pagada tatuada no ombro (curiosidades a parte).
As pegadas tiveram um sentido interessante em minha vida, pois representava meu percurso até então com muita persistência em tudo que fiz. Falando em simbolismo podemos dizer que o numero quatro é o da totalidade/inteireza. Quatro pegadas igual força e instinto. Mais tarde vou falar melhor sobre simbolismo.
Hoje em dia suponho que a maioria das pessoas não acha mais, que só pessoas sujas e ligadas a grupos específicos (do tipo marinheiro, presidiário e integrantes de gangues) se tatuam. A tatuagem vai muito além disso, é uma expressão do que se tem no seu interior. As pessoas são tomadas por esta vontade de mostrar algo além, são invadidas por uma imagem que precisam expressar.
Penso sempre que ser tatuada é a estética que escolhi para mim. A pele com a qual escolhi viver.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

o Preconceito

Vim a entender melhor o preconceito a partir da própria pesquisa, o que descrevo abaixo com trechos de um artigo meu publicado em 2006. Algumas teorias relacionadas ao preconceito, explicando-o tanto do lado psicológico como o do convívio social.

"A tatuagem não só revela informações sobre a história do indivíduo, mas o sintoniza em uma gama de perspectivas relacionadas ao desenho, que passam a dizer respeito a ele e a afetar a forma como outras pessoas o vêem

Este corpo expressará uma dualidade que relaciona o individual ao social, montando assim uma gama de personagens a serem encarnados, tanto para o auto-conhecimento do indivíduo quanto para as relações sociais.

A tatuagem é tão somente expressão estética como uma forma de diálogo social. O corpo nu é uma tela em branco na qual se imprime o extrato cultural do indivíduo. Desta forma, a pessoa que se tatua estará se emprestando como veículo humano de questões culturais nas quais, desta maneira, estará se inserindo e se integrando.
Hoje, em nossa sociedade, esta expressão, na maioria das vezes, é vista como uma forma marginal, o que acarreta numa ignorância sombria, de não se ver o que está sendo dito através do corpo. Esta sombra social está sempre sendo denunciada no comportamento conservador de pessoas que reagem de forma agressiva ou espantada ao se depararem com um indivíduo de corpo tatuado. Tão importante é o poder das imagens como fator comunicador que suscita tal comportamento de estranhamento. Neste momento, falo do conceito de projeção de C. G. Jung, através do qual o indivíduo transfere seus conteúdos inconscientes para outros de formas diversas. O preconceito, uma destas formas de projeção, tem também sua importância cultural e psicológica, nos leva ao confronto das diferenças que, por vezes, na verdade são nossas, mas só estão visíveis nos outros. O preconceito seria, então, uma forma de projeção na qual não se tem a intenção de integração e sim de se deixar o conteúdo na ordem do externo e perigoso. Porem, somente confrontando estes conteúdos e se auto-conhecendo o indivíduo poderá sair desta teia. "

(Revista tatuadores & Body Piercers - ano 1, n°3 e n°4, 2006.)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Segunda tatuagem



E não parei por ai, fiz outra tatuagem, um bracelete tribal, que para mim representa um morcego, mas fique a vontade para ver outra coisa. Levou mais ou menos dois anos entre uma tatuagem e outra.

Há está altura já sabia como era o preconceito em relação aos tatuados. Começou com minha mãe chorando e me proibindo de fazer outra, o que não adiantou em nada. Já meu pai demorou um ano para descobrir a primeira, distraido que era.
Esta é uma das questões, que começa na familia, que pretendo discutir aqui, a posse do próprio corpo e a forma de utilizar a tatuagem para como critica a estética vigente na sociedade contemporânea e também os direitos sobre o próprio corpo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Primeira Tatuagem

A tatuagem para mim começou como uma pequena transgressão a “caretice” familiar ou social para se tornar um estilo de pensar a vida. Tatuar-me era um ato de comunicar aquilo que desejava ser, não somente na aparência, mas na essência. Uma profunda vontade de ser entendida.
Começa assim a minha historia com a tatuagem. Fiz minha primeira aos vinte e um anos, um dragão em estilo tribal, foi num estúdio improvisado na casa de um amigo que começara a tatuar e era ótimo, o que hoje em dia não recomendo a ninguém, pois higiene e um local apropriado são muito importantes. Muitos anos depois vim a pesquisar o simbolismo do dragão (o meu era tibetano) e descobri que estes eram considerados anjos da guarda.
 
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